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A Outra Face da Questão: do Ideal ao Real. - Alimentação Infantil

  • Foto do escritor: SAUDE&LIVROS Fomm
    SAUDE&LIVROS Fomm
  • 7 de mai.
  • 4 min de leitura

por Prof. Dr. Mauro Fisberg

 


Portinari, 1940, Crianças
Portinari, 1940, Crianças

Você muitas vezes já se perguntou por que as crianças não comem, comem pouco ou comem mal... E provavelmente não se lembrou de um enorme contingente de crianças que tem uma realidade diferente da que você vive. São as crianças que não tem o que comer, que tem apenas uma refeição ao dia, que não tem escolhas, que não tem o que chamamos de segurança alimentar. Ou seja, a probabilidade de não ter alimentos na próxima refeição.

 

Aind falaremos muito do que pode ajudar o seu filho a comer melhor. Agora gostaria de falar um pouco de uma outra realidade, em que muito pouco podemos fazer...


A pobreza e a desnutrição ainda são muito frequentes no nosso mundo, e nos últimos anos temos visto um aumento das famílias em situação de pobreza e pobreza extrema. São as que você vê nas ruas, nas calçadas, nos parques, pedindo esmola nos semáforos. Que dependem de ajuda para sobreviver e que não tem a chance de poder ser seletivas. Não tem a chance de poder decidir que não gostam ou que gostam. Não tem apresentação bonita, cheirosa, apetitosa, crocante ou com o chiado do gostoso. Seus órgãos do sentido estão dedicados inteiramente ao sobreviver no final do dia. E o lixo, o seu descarte, o que sobrou, o que ninguém mais quer, é o que os faz chegar a mais um dia.

 

São crianças que tem baixo peso, baixa estatura, barriga grande, olhos profundos, cabelos raros e descoloridos. São crianças que não crescem no seu potencial, que apresentam infecções graves por desnutrição.

 

Crianças que não chegam as escolas, que não tem futuro, que não tem opção.

 

A pandemia do Corona vírus piorou ainda mais a situação que já era complexa. Famílias que dependiam do dia a dia para serviços e para compras, perderam suas fontes de renda, seus trabalhos como prestadores de serviço ou perderam seus empregos. E a miséria chegou com mais impacto nos que já não tinham preparo, nos que não tinham acesso a recursos de saúde, educação e renda. Os serviços de saúde pública tiveram de se desdobrar no atendimento a pacientes do Corona, e não puderam dar atenção aos mais simples processos de atendimento. As merendas escolares diminuíram ou desapareceram. E a comida subiu de preço como há muitos anos passados em tempos de mega inflação.

 

O custo relativo da alimentação é sempre muito maior para quem tem baixa renda e quem tem menores capacidades de equacionar custos básicos.

 

Talvez uma das poucas coisas que tivemos de aprendizado no período de crise da Covid 19, foi o aumento da conscientização da higiene. Lavamos mais as mãos, mantivemos se possível o distanciamento social (irrelevante e impossível na população de mais baixa renda), usamos quando disponível o álcool gel e cobrimos nariz e boca com máscaras.

 

Mas como manter estes hábitos quando não há água, quando não há recursos para compra dos objetos de proteção, quando o trabalho não permite a distância, quando o custo de sobreviver no dia a dia é maior que o risco de uma doença que assusta e mata?

 

Para que possamos pensar, a criança que não come porque tem escolha é totalmente diferente da que não tem comida. A criança que come pouco porque está distraída pela tela de televisão, tablete e celular não tem a mesma repercussão da que não tem acesso ao mínimo. Esta é seguramente desnutrida, tem deficiências de minerais e vitaminas, e não tem defesa.

 

A criança que pula refeições por livre decisão, claramente tem menos risco da que não tem condições de ter pelo menos UMA refeição por dia. A estimulação das duas situações é muito diferente. E as consequências serão muito diferentes. Provavelmente uma será talvez uma chata para comer no futuro, ou modificará seu apetite de forma cultural ou a experiência mudará seu modo de comer. A outra provavelmente lutará para sobreviver e terá poucas chances de sair do seu mundo.

 

No entanto, não sei se você disser que há crianças passando fome no mundo, mudará a forma de pensar do seu filho. Acredito que não.

 

No entanto, cabe a nós a reflexão de que por mais grave que seja o problema que você tem com seu filho que não come, existem escolhas, existe a possibilidade de você contar com apoio profissional, com gente especializada para ajudar. Coisa que somente a sociedade poderá resolver no outro lado do problema. Mas talvez conversar com seus filhos que a sociedade não é igual para todos, pode também ajudar a conscientizar- sobre o desperdício, sobre a sustentabilidade, sobre escolhas mais adequadas, sobre a solidariedade e a estimulação.

 

O nosso mundo precisa modificar suas escolhas alimentares, garantido maiores condições de vida para as futuras gerações. Escolhas conscientes como as chamadas alimentações mistas, flexitarianas ou com maior quantidade de vegetais (as chamadas Plant Based ), podem ajudar a reduzir o consumo de alimentos ricos em gorduras, sal e açúcar, com maior carinho na escolha de nutrientes e que favoreçam os pequenos produtores locais. 

 

Talvez com isto, além de melhorar a alimentação de nossos filhos, estejamos também garantindo um melhor futuro para as futuras gerações.

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