por Ronaldo Alvan de Vasconcellos

Há de se ter o direito de acordar numa bela manhã de sol, e dizer para nós mesmos: Você é livre. Não vá. Não existe mais aquele compromisso que você marcou para hoje cedo. Não existe mais o relógio de ponto. Não existe mais a máquina.
Você é um homem. Reaja. Liberte-se. Fique.
Você não é pago para respirar fumaça. Você foi feito em harmonia com a natureza.
Fique. Pense. Você é só cabeça. Todo o resto é o que você pensa.
Não vá. Fique.
Mas, há de se ter também o direito de correr, há de se ter o direito de ficar nu, há de se ter o direito de sair gritando para todos quem somos, de onde viemos e para onde vamos.
Há de se ter também o direito de respirar, pois que a gaiola em que fomos colocados já está se tornando pequena.
E há de se ter ainda o direito de se defender, e para isto há de se ter o direito de matar irmãos para que eles não nos roubem o pouco que ainda existe para dividir?
Há de se ter o direito de jogar pela janela aqueles que conosco não concordam?
Há de se ter o direito de confinar em gaiolas menores aqueles que são grandes demais para viverem na gaiola maior?
Há de se ter o direito de selecionar raças em laboratórios ultra equipados?
Há de se ter o direito de matar as criancinhas que nascem porque sabemos que elas não chegarão à velhice?
Há de se ter o direito de exterminar os velhos, pois eles não mais voltarão à juventude e não mais servirão às máquinas?
Há de se ter o direito de silenciar, de pisar, de massacrar, de roubar, de conspirar?
E há de se ter o maior de todos os direitos: Há de se ter o direito de engolir a BOMBA e explodir com ela, porque é sob sua sombra que estamos vivendo.
Perdoem-me, mas há de se ter o direito de acordar numa bela manhã de sol amargurado como se fosse um dia tão triste, como um dia de chuva na Bahia.
Alvan. Salvador, 08/04/76.
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