Meus Anjinhos do Céu
- SAUDE&LIVROS Fomm
- 21 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 22 de abr.
por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano
(com vídeos no final da página)

Philip e Elizabeth I chegaram em 25 de setembro de 2022.
Filhotinhos de 5cm de comprimento, passarinhos, periquitos australianos. Eu precisava preparar uma papinha morna e dar a eles, com uma seringa no biquinho, de 3 em 3 horas. Fiz.
Philip se deu bem, mas a Elizabeth I (que era azul turquesa), dois dias depois, não queria comer e morreu. Coloquei o corpinho dela numa caixinha de papelão com tampa transparente, enfeitada com florzinhas secas e pedi ao Carlos Cesar Melo (nosso faz-tudo) que a enterrasse no jardim.
Chorando, pedi ao Lucas (da Aves Mansas) que me mandasse outra igual. Veio a Elizabeth II.

Quinze dias depois, ela desenvolveu um "nó" no papinho e, apesar dos nossos esforços (meus e da minha querida amiga Roseli Zampirolli), ela amanheceu morta, com a cabeça no comedouro. Estivera tentando se alimentar! Mais caixãozinho, mais choro, mais enterro.
Aí eu pedi ao Lucas que mandasse outra, mas, desta vez, desmamada.
Elizabeth III chegou em novembro de 2022. Era verdinha, diferente das outras duas. E sobreviveu, adaptou-se, ela e o Philip viviam bem juntos, sempre soltos pelo apartamento. Nunca ficaram presos, a casinha deles (gaiolinha) sempre aberta.
Um dia, a Elizabeth III, feriu a patinha nas rodas da cadeira do meu computador. Desesperada, procurei um veterinário de animais silvestres na Internet, achei, parei tudo o que estava fazendo, coloquei os dois numa "bolsinha da transporte" (de tela, que tem um poleirinho dentro), chamei um táxi e os levei.
Elizabeth III ficou quietinha na bolsinha, como uma verdadeira Lady, empoleiradinha. Mas o Philip... ficou desesperado. Nunca, em toda a sua vidinha, ficara preso por um minuto sequer...
Não. Minto. Nos primeiros dias o Lucas me orientara a deixa-lo preso, por ser ainda muito criancinha. Mas, pouco tempo depois, ele apareceu aqui no meu escritório. Logo descobri que, espremendo-se, ele conseguia passar por entre as grades da casinha... Lindo! Esperto! Até filmei essa travessura dele e, desse dia em diante, nunca mais o deixei preso... nem ele, nem ela!
No veterinário descobri que Elizabeth III era o macho e Philp, a fêmea. Meu amigo, o cirurgião plástico Paulo Jatene, dizia então que eu era a única pessoa que ele conhecia que tinha "passarinhos trans". Mas já era tarde para trocar-lhes os nomes porque então, à época, eles já vinham pra mim quando os chamava.
Meu amadíssimo marido, Mauro Caetano, morreu em 27 de julho de 2021. Eu cuidei dele, doente, por dois longos anos. Nas últimas semanas de vida, os filhos dele (que sempre foram muito ausentes em nossas vidas) tentaram, por duas vezes, "sequestrá-lo", armando situações, quando ele eventualmente precisava ir ao hospital, para afastá-lo de mim. Mas eu driblei todas as armações. E não estava entendendo nada, quando, afinal, compreendi que fôra ele mesmo quem pedira os filhos para tirá-lo de casa, para, afinal, "me poupar" do trabalho que ele me dava. Eu disse: "Eu te amo, meu amor, e estou e estarei sempre contigo, na saúde e na doença, na vida e na morte".
Ter passarinhos soltos pelo apartamento demanda, evidentemente, muito trabalho. Tem que limpar, a todo momento, os cocozinhos deles e, pelas manhãs, sair pela casa procurando cocozinhos que escaparam e limpá-los com uma esponjinha e pinho sol. Eu fazia isso, sempre brincando com eles e dizendo em tom carinhoso: "Nossa, que trabalhão o Philip e a Elizabeth dão pra mamãe..."
Ao amanhecer, eles voam para a minha cabeça, para os meus travesseiros, e me acordam. Por isso é que sempre acordo sorrindo...
Gravei inúmeros vídeos e chamadas com eles. São dados, carinhosos, inteligentes. De manhã, quando abro a lata de pães para preparar meu café, voam pro meu ombro, esperando pelo pãozinho deles. Corto dois pedacinhos de pão de forma integral e digo: "Onde é que os passarinhos vão comer o pãozinho?". Eles imediatamente voam pra dentro da casinha porque sabem que é lá que eu vou colocar o pão.
No dia 9 de abril de 2025 (fazem looongos 10 dias!) eu desci para atender um motoboy que precisava de alguma coisa. Entrei no elevador e não percebi que Elizabeth estava no meu ombro. Fui até a porta, conversei com o rapaz, tudo sem perceber que ela estava no meu ombro, de tão acostumada que estou com eles empoleirados em mim... Aí chegou uma moça e disse: "que passarinho lindo". Ela se assustou e voou em direção à Paulista.
Passei mais de duas horas chamando por ela, alertei todas as pessoas, no entorno, todas as minhas redes sociais, avisei todo mundo, até os policiais e um deles fotografou a tela do meu celular para ter a imagem dela...
Gente, dia seguinte fiquei horas no jardim, andei pela Paulista, sempre com o canto dos passarinhos tocando alto no celular... e naaadaaa! Ela foi embora.
Nos dias que se seguiram eu percebi que 90% do trabalho de limpeza que eles me davam, todos os dias, se devia à Elizabeth. Philip é, afinal, responsável por apenas 10% desse trabalho...
E, assim, conclui que Elizabeth III foi embora, assim como o meu amor Mauro Caetano queria ir, apenas para "me poupar" do trabalho de cuidar deles...
A fuga de Elizabeth III foi um ato de amor, assim como seria "a fuga" do meu querido maridão. Coisas loucas essas!
Que Elizabeth III seja feliz onde estiver. No Trianon ou no Ibirapuera. E que encontre uma companheira com quem compartilhe a vida em seu próprio habitat.
Quanto a nós, Philip e eu, ficaremos apenas nós dois. Porque nos bastamos e somos felizes!
Bel, 2025, abril, 19
Você é incrível, Bel!!!
E aí, Chris? O nosso livro vai ou não vai?
Amiga eterna poetiza. Lindo texto
Fatima Turci Saudades de você, Fatiminha, saudades do nosso camarim...
Que lindoooooo
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