(publicado na Revista UpPharma, março 2025)

Por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano
Por iniciativa da Prefeitura de São Paulo, as mães que têm filhos matriculados nas creches municipais terão tarifa grátis nos ônibus.
Mas o nosso transporte coletivo é indigno de uma metrópole que, afinal, é o maior PIB do Brasil e a maior cidade da América Latina.
São inúmeros os problemas – filas, carros lotados nas horas de pico, veículos nem sempre em boa forma, motoristas mal humorados, muito desconforto, enfim --, mas as mulheres, como sempre, são as maiores vítimas dessas dificuldades, além de que ainda sofrem assédio de homens inescrupulosos que se aproveitam da proximidade dos corpos pelas superlotações...
Na década de 1980, foi moda munir a mulherada de grandes agulhas para espetar esses engraçadinhos. Não adiantou. A coisa continua, quatro décadas depois. Alguns ônibus estampam, em suas carrocerias, frases contra o abuso. Também pouco adianta, embora a inciativa seja digna de aplauso.
Mas, tanto as mulheres que precisam usar os transportes coletivos, quanto aquelas que têm o privilégio de trafegar em seus próprios automóveis, todas elas enfrentam, o enorme estresse do infernal trânsito paulistano, que já seria obra do nosso conhecido Lúcifer, se a essa não se somassem as enchentes, os eventuais arrastões, a janela do carro estilhaçada, e uma mãozinha safada que arranca o celular do painel, e diversas outras intercorrências.
Como diria o Dr. José Carlos Riechelmann – médico gineco e psicossomático – “o problema do estresse é quanto tempo ele dura.”
Uma ameaça, um susto, qualquer coisa que te estresse repentinamente, faz a adrenalina disparar, mas não dura mais do que 15 minutos. O problema é o estresse prolongado, cotidiano, que se arrasta por anos a fio, como é o caso das contrariedades vividas no transporte coletivo e no tráfego da nossa cidade (e de muitas outras, sabemos!).
A adrenalina – explica o nosso doutor – estreita os vasos sanguíneos, desvia o fluxo do sangue para os músculos (e, por consequência, o intestino funciona mais devagar) causando, a longo prazo, não apenas as doenças cardíacas, mas prisão de ventre (que os médicos chamam de constipação). Estresse crônico, dia a dia, que dura anos e anos... imagine o estrago que faz ao nosso corpo.
O corpo, porém, não é tudo. O humor e a nossa saúde mental são profundamente afetados na guerra cotidiana do trânsito das grandes cidades! Irritados e impotentes, nessa batalha cotidiana, vamos ficando mais intolerantes, menos gentis, mais agressivos. E esse estado vai novamente se refletir no nosso corpo, gerando dores de estômago, fígados desesperados, cabeças latejantes...
Enfim... infelicidade galopante!
É claro que os homens também sofrem com tudo isso, não apenas as mulheres. Porém, como sempre, para elas é pior!
Muitas usam mais o carro, no dia-a-dia, do que os homens. Supermercado, levar e buscar crianças na escola, essas coisas. E para as que andam de transporte coletivo...muito mais problemas!
Estamos chegando a mais um 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Alguns pensam que é mais um Dia das Mães, ou da Secretária! Mandam florzinhas e mensagens edificantes nas redes sociais. Hipocrisia. Esse dia é de luta. Luta contra a discriminação social, luta contra a violência doméstica (25% das brasileiras apanham regularmente dos seus companheiros), contra a absurda ideia de que elas são menos capazes – e menos racionais – do que eles.
Precisamos de políticos que se sensibilizem com a questão da mobilidade urbana. Que percebam que, continuando assim, estressados e doentes, nas simples tarefas do ir-e-vir para cumprir nossas obrigações cotidianas, continuaremos infelizes e, portanto, doentes.
Mobilidade já! E, com a saúde, virá a alegria!
Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano é escritora, om 23 livros publicados, e apresentadora de TV.
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