O Endereço da Guerra
- SAUDE&LIVROS Fomm
- 1 de abr.
- 3 min de leitura
(pode ser o da sua casa...)
por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

George Martin estava certo ao colocar, na boca de sua personagem Melisandre, a seguinte fala: “Princesa, existe apenas um inferno. E é aqui, onde vivemos”.
Alguém duvida? O saudoso psiquiatra José Ângelo Gaiarsa dizia que, em 10 mil anos de História da Terra, não houve um único dia em que, em algum lugar do planeta, não houvesse guerra.
Guerra, a síntese do Inferno.
E embora muitos possam argumentar dizendo que existem pessoas que vivem no Paraíso, aqui na Terra, ousaria dizer que esse paraíso é pouco mais do que aparência.
O milionário, cercado de lindas mulheres, deitado ao sol no deck de seu iate, pode estar cheio de dúvidas, angústias, sofrimentos.
O modelito de “paraíso” que a nossa sociedade ocidental elegeu se estampa em inúmeros posts em redes sociais onde todos são maravilhosos, prósperos e felizes.
Tudo mentira.
Nós todos – embora uns mais e outros menos – estamos mergulhados no Inferno da Guerra.
A guerra literal espalha infelizes refugiados a quem tantos habitantes de supostos paraísos negam asilo ou, sequer, consideração. A guerra literal mata, mutila, aleja, destrói famílias, amores. E há guerra literal, nesse momento, em grande parte do planeta.
Mas a outra guerra, a silenciosa, nos acompanha, com maior ou menor intensidade, na vida cotidiana.
Guerra no trânsito das grandes cidades. Guerra no morro, nas comunidades das balas perdidas. Guerra dentro de casa, na família mal resolvida, cheia de intrigas e rancores. Guerra no escritório. Guerra na novela da Globo.
Quero falar, particularmente, da guerra no mundo corporativo. E não apenas no nível das grandes sacanagens e armações possíveis para empresas internacionais em luta pela generosa fatia de mercado num mundo globalizado.
Quero falar do que está mais perto, quero falar da guerra que você incrementa quando confunde o seu adversário com o seu inimigo. Na guerra da competição suja e desleal, infelizmente tão praticada hoje em dia nas empresas.
Quando você mente, você trabalha para a guerra.
Quando você se acha superior a quem quer que seja, você trabalha para a guerra.
Quando você se omite, você trabalha para a guerra.
Quando você acredita que sua religião, seus títulos universitários, suas origens, sua família, seu cargo importante, lhe concedem privilégios, o tornam "superior" a qualquer outro, você trabalha para a guerra.
Quando você agride o mais fraco, você trabalha para a guerra.
Quando você não tolera o diferente, você trabalha para a guerra.
Quando você prega a violência como solução para o que quer seja, você é a própria guerra.
(E já que esse artigo está mesmo repleto de citações, vamos a mais uma:
“A violência é o último recurso da incompetência”, disse Isaac Asimov.)
Agir no sentido de tornar o ambiente de trabalho um ambiente onde imperam a honestidade e a lealdade, não vai impedir ninguém de competir pela promoção.
Nada impede que você se aperfeiçoe, se faça notar pela competência, aprimore seus conhecimentos, lute para conquistar novas e melhores posições na profissão. Mas a ascensão profissional, a grana no banco, a casa dos sonhos, o barco... nada disso poderá trazer a você a paz de espírito que é a sua única chance de escapar com vida da guerra de todos os dias.
Longe de mim a apologia do fracasso ou da pobreza. Claro que não! Todos temos que prosperar.
Mas sem matar.
Trabalhar pela paz, porque só a paz traz o verdadeiro progresso.
Comments