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Um Oásis no Deserto de São Paulo (Pelo Renascer, na Páscoa)

  • Foto do escritor: SAUDE&LIVROS Fomm
    SAUDE&LIVROS Fomm
  • 20 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 20 de abr.

Por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano.

Foto de Vitor Serrano, BBC News Brasil
Foto de Vitor Serrano, BBC News Brasil

Nas décadas de 1970 e 80, eu era diretora de criação na Doxa Publicidade, que tinha por cliente uma construtora chamada Habiterra. Um dia, fui conhecer um loteamento deles, em Itaquera, onde tinham construído muitas casas populares. E fiquei completamente horrorizada.

 

As casas eram bonitinhas, bem construídas, simpáticas. Mas... tudo era asfalto e concreto. Mais de 50 casas, uma ao lado da outra e sem absolutamente nenhum verde. As casas tinham entrada cimentada, podendo até servir de garagem. E não tinham jardins! Não tinham sequer um canteirinho lateral aos muros, com um pouco de terra, onde se pudesse plantar qualquer coisa.

 

Era um horror desértico!

 

Décadas depois, a Zona Leste chamava atenção por ser coberta de construções coladas umas às outras, sem absolutamente nenhum espaço para qualquer tipo de verde. Um deserto de solo impermeabilizado, de clima evidentemente muito mais tórrido do que as outras zonas da cidade e ar insalubre. A Globo até fez uma grande campanha para que se encontrasse qualquer lugarzinho, por lá, onde fosse possível plantar algumas árvores e incentivou moradores e ecologistas a fazer isso.

 

No entanto, no ano de 2003, um executivo da indústria açucareira, de nome Hélio da Silva, notou que havia uma faixa de 3 quilômetros de comprimento entre os bairros da Penha e Cangaíba, onde nada existia, a não ser entulho, estacionamentos improvisados por comerciantes, lixo diverso. E decidiu ir buscar cerca de 200 mudas de árvores no interior do estado para plantar ali.

 

Familiares e amigos riam da ideia do Hélio. “O povo vai destruir tudo” – diziam. “Os comerciantes não querem isso, vai esconder as lojas no entorno”.

 

De fato. Hélio plantou 200 mudas de árvores e todas foram destruídas.

 

Ele não desanimou. Voltou ao interior e comprou mais 400 mudas. Plantou-as. Mais uma vez, todas foram destruídas.

 

-- Ah, é? – disse Hélio, sentindo-se desafiado – Então desta vez eu vou comprar 5 mil mudas.

 

E plantou-as. Muitas espécies de árvores e, entre elas, algumas frutíferas.

 

Era 2004. E as cinco mil filhas verdes de Hélio da Silva começaram a crescer, melhorando a qualidade do ar local, atraindo pássaros e outros animais que, até então, nem passavam perto daquele antigo deserto.

 

Entre 2005 e 2012, Hélio recebeu o apoio político de Eduardo Jorge que, nas gestões dos prefeitos José Serra e Gilberto Kassab, foi Secretário do Meio Ambiente. E assim nasceu o Parque Linear Taquatira, hoje completamente incorporado à vida dos dois bairros que ele corta, ou melhor dizendo, que ele revigora, com suas 41 mil árvores, que foram sendo plantadas ao longo desses 22 anos.

 

Não é preciso dizer que a qualidade de vida local deu um grande salto para cima. Hoje, o parque abriga, além das árvores, plantas, pássaros e outros animaizinhos, uma academia de ginástica ao ar livre e recebe regularmente a visita dos moradores da região.

 

O tórrido calor arrefeceu, as enchentes diminuíram porque há terra para absorver a chuva, o ar se purificou...

 

Taquatira é o presente de um homem que nunca desiste: Hélio da Silva. Um homem só, que teve um sonho e o realizou plenamente! Um presente para toda uma enorme população que, antes, morava num deserto urbano de concreto.

 

Todas as cidades do planeta Terra precisam urgentemente de muitos Hélios da Silva.

 

Precisam transformar as coberturas dos edifícios em hortas e jardins. Precisam cobrir de hera as paredes das construções. Precisam de “florestas” verticais como as que se ergueram no Luxury Hotel São Paulo, complexo construído no terreno que abrigava o antigo Hospital Matarazzo e que é um show de arquitetura verde, com jardins laterais em todos os andares do edifício, um prédio revestido por árvores e plantas ornamentais.

 

Da casa mais humilde ao mais sofisticado condomínio, em todo lugar, há espaço para mais uma árvore, mais uma plantinha, para um jardim vertical.

 

Obrigada, Hélio da Silva por seu exemplo! Você é como o casal Sebastião Salgado que transformou as montanhas carecas que cercavam sua propriedade rural, em 20 anos, numa exuberante floresta!

 

De maneira bem menos exuberante, também a nossa casa é uma floresta.  Nos 108 m2 do apartamento, tenho – coincidentemente – 108 vasos, desde os pequenos até os enormes, e mesmo algumas árvores de menor porte. Cortinas feitas de samambaias, incluídas aí as majestosas amazônicas, paredes cobertas de vasos suspensos. Folhas se derramando sobre estantes de livros e até passarinho que vive livre e solto!

 

Precisamos, antes de perecer sob os efeitos das mudanças climáticas causadas pelo Aquecimento Global, reinventar as florestas e adaptá-las à urbanidade. Não é nada difícil, não é? Basta querer e meter as mãos na terra, antes que não tenhamos mais Planeta Terra.


Isabel, Domingo de Páscoa, 2025, abril, 20.


Mônica Krausz - Que bom que existem pessoas pra dar exemplo e mostrar que o mundo ainda pode ter jeito! 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽 

Lafayette Lage - Adorei sua matéria !!! Eu lutei muito contra os pulmões verdes que foram aniquilados próximos do meu apartamento na Rua Lisboa ! Os prédios não param de subir e exterminar verdadeiras mini selvas de Pinheitos. Perdi todas as batalhas mesmo com matérias nos jornais denúncia a destruição das construtoras . Não desistirei . Parabéns !


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