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A Flor na Roupa

  • Foto do escritor: SAUDE&LIVROS Fomm
    SAUDE&LIVROS Fomm
  • 26 de dez. de 2024
  • 4 min de leitura

por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano



Boneca Pequetita com sua Flor no Casaco
Boneca Pequetita com sua Flor no Casaco

Muitas das minhas telespectadoras e até mesmo algumas amigas, sempre me perguntam porque eu jamais deixo de usar uma flor na lapela. E não é apenas na TV, é na vida. Mesmo quando estou de roupa esporte, sempre acho uma florzinha de tecido, na gaveta, que acaba combinando com o traje. Virou mania.


Tem uma história, ou várias histórias, aqui. E, como as perguntas sobre isso têm sido muito frequentes, resolvi contar.


Quando, há uns três anos passados, as flores vieram à moda, eu fiquei muito entusiasmada. Afinal, adoro flores, sou uma jardineira (competente!) de apartamento e tenho, na casa, muitas matas floridas.


Há apenas uns 20 anos, descobri o enorme prazer que é praticar a jardinagem, ainda que em vasos e nos apartamentos. Com as plantas, aprendi a ter paciência, eu que sou impulsiva e quero tudo já, agora. Com elas, é preciso esperar. Semeia-se, espera-se pelo broto, depois pela planta, pela flor e pelo fruto, se for o caso. Não adianta ter pressa. E é muito gratificante ver como elas respondem aos nossos cuidados. Para mim, cultivar plantas no apartamento foi uma descoberta mágica e maravilhosa.


Por isso, quando vieram as flores de tecido à moda, pedi ao meu marido, que ia ao shopping, que me comprasse algumas. Ele me trouxe três e comecei a usa-las nos meus programas de TV.


Lembrava-me de que vira essas flores em muitos trajes que a minha mãe, sempre elegante, vestia quando eu era criança, nos tempos idos da década de cinquenta. Pedi a ela que confeccionasse, com suas mãos de modista experiente, mais algumas flores para mim. Ela fez mais três e eu fiquei com seis.


Um dia o Ronnie Von, que me encontrara no corredor da emissora, disse:

- Nossa Bel, que linda essa camélia branca! Você deve ter um montão de flores, não? Cada dia com uma mais linda!


Eu ri, pensando que apenas 6 flores faziam o efeito de várias, dependendo da roupa.

Um dia, logo depois, sonhei que folheava antigos albúns de fotos da família e, de lá de dentro, saltavam flores de seda, as mesmas que a minha mãe havia usado nos anos 1950. Acordei extasiada.


Nesse mesmo dia, minha amiga Leda me telefonou para dizer que fora a uma loja de couro, no centro da cidade e que o dono da loja, Francisco, estava me mandando de presente dez flores.

Fiquei com 16.


Algum tempo depois, quando gravávamos juntas uma chamada, Sula Miranda me disse o que o Ronnie já dissera e perguntou:

- Quantas flores você tem, Isabel?

- 16, respondi.

- So isso? Parece que é muito mais!


No dia seguinte, me esperava, em meu camarim, uma caixa de sapatos, mandada pela Sula. Abri e fiquei com lágrimas nos olhos: lá dentro, 25 flores, uma mais linda que a outra.

Fiquei com 41.


Minha prima Vera Krausz (primavera!) me deu um presente que trazia uma linda flor na caixa. 42.

Pouco tempo depois, a Miriam Sobral também deixou no meu camarim uma linda caixinha com uma maravilhosa flor preta e branca. 43.


Depois, foram as dentistas, Adriana e Alessandra Mazzoni que me trouxeram uma estonteante flor de seda azul-céu. 44.


Minha amiga Leda me trouxe mais uma, da Itália. 45.


E a minha vizinha do oitavo andar, Filomena, me encontrou na calçada da Paulista e perguntou se eu me importaria de herdar umas velhas flores de seda, muito antigas, que ela conservara. Trouxe-as mais tarde, numa caixa de papelão, envoltas em papel, lindas, antigas e muito tradicionais.

Assim, hoje eu tenho 52 flores. Sem nunca ter comprado nenhuma e as uso todos os dias.


Claudia Pacheco, em seu programa matinal, entrevistava a dona de uma confecção, mostrando as tendências para a próxima estação e uma das modelos tinha uma linda rosa no vestido.

- Sabe, Cláudia, as flores virão com tudo a partir de agora. – disse ela.

E a Claudinha:

- Ah, então está para a Isabel Vasconcellos! Ela adora flores.


Eu adoro mesmo e vou usá-las sempre, estejam ou não na moda.

Afinal, elas vieram todas de presente, qualquer uma que eu coloque na roupa, me lembra um amigo, um afeto. E me lembram também que, apesar de ser uma imagem batida e explorada, as flores, tão lindas e efêmeras, simbolizam o milagre da natureza, o milagre de se estar vivo.


E tem mais uma coisa: depois de décadas de luta e sofrimento, as sufragistas americanas viram acontecer, em 26 de agosto de 1920, uma sessão do Congresso para deliberar se elas conquistariam ou não o direito de voto para as mulheres. Elas venceram. O voto feminino foi estabelecido, nos EUA, neste dia. E, neste dia, todas as mulheres que estavam presentes no Congresso, usavam uma flor na lapela.


(Texto escrito em 2003; hoje, 2025, tenho mais de 300 flores, todas me foram dadas de presente)


2024, Philip, eu e a Flor
2024, Philip, eu e a Flor


1958, Meus Pais, Wanda e Alfredo, e eu. Ela, com a flor no vestido.
1958, Meus Pais, Wanda e Alfredo, e eu. Ela, com a flor no vestido.

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