por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

Todo mundo morre, mais cedo ou mais tarde. Mas -- talvez seja uma benção -- vamos vivendo como se fossemos imortais.
Minha família nuclear já se foi há muito tempo. Sou temporona, 17 anos mais nova que meu irmão mais velho, 15 anos de diferença pro mais novo. Minha mãe tinha 39 anos quando nasci; meu pai, 43.
Meu marido, amado Mauro Caetano, 13 anos mais velho que eu.
Se bem que eu poderia ter ido antes deles. Abusei e muito! Dirigi bêbada, inúmeras vezes, quando jovem. Só não fui porque tenho um Anjo da Guarda super competente.
Desconfio seriamente que um desses anjos, ou ambos, vieram viver aqui comigo, há dois anos e meio, em forma de periquitos australianos, Philip e Elizabeth, que eu chamo de "meus anjinhos do Céu".
Eles ficam o dia quase inteiro comigo, dormem no meu quarto, em duas plantas grandes que tenho ao lado da cama, ao amanhecer vêm me acordar e só depois, quando eu viro pro outro lado e digo "mamãe vai dormir mais um pouco", é que vão pra sua casinha, na floresta que fiz pra eles no quarto que era o escritório do Caetano, para comer e beber. Mas, quando acordo de novo, como que por milagre, eles voam de volta pra minha cama! Como sabem que acordei? Não faço nenhum barulho, apenas abro os olhos, acordo enfim, e lá vem eles, voando direto pra minha cabeça. São telepatas!
Fazem uma baita sujeira, no apartamento inteiro, que eu, pacientemente, vou limpando ao longo do dia. Ou, se não der tempo, limpo tudo na manhã seguinte... nesse caso, mais de uma hora de trabalho!
Não me importo, porém, com o trabalho que eles me dão. É um preço muito baixo para as risadas que eles me fazem dar o dia inteiro, para a alegria que eles me trazem. São lindos demais, nunca me canso de admirar suas cores e formas, suas travessuras... Comem os talos das minhas plantas e conseguem -- uns serezinhos de apenas 15cm -- derrubar grandes folhas de Costelas de Adão, por exemplo!
Lembro-me de um amigo, médico psiquiatra, que, a cada vez que ia participar do meu programa "Saúde Feminina" na Rede Mulher de TV, gostava de ir ao meu camarim, onde podia tirar a sua garrafinha de whisky, beber e fumar um cigarrinho. Um dia, ele e a esposa, cansados de tentar engravidar, foram para a Reprodução Assistida e tiveram 2 filhas gêmeas. A partir de então esse meu amigo parou de fumar e de beber. Dizia: "Preciso ficar vivo para criar minhas filhas".
Philip e Elizabeth, meus passarinhos, têm uma estimativa de vida que varia de 8 a 12 anos. Mas preciso viver até lá, para cuidar deles... Tenho 73. Eles morrerão quando eu tiver de 81 a 85... Por isso, cuido melhor da minha saúde. Hahahaha...
A morte nunca me espantou. Encarei inúmeras mortes de tantos dos meus entes queridos com a tranquilidade de quem sabe, como diria Noel Rosa, que "morrer é da vida". No entanto, a morte do meu amor foi a que mais me abalou. Sua decrepitude me deu medo, o que eu nunca tivera, da velhice.
Sei, porém, que o medo é o pior companheiro. É ele quem atrai a verdadeira desgraça.
Por isso, sigo fingindo que sou imortal e que a vida vai continuar me brindando com seus privilégios (e os tenho, muitos) e que não virarei um vegetal, por conta de um AVC ou do Alzheimer.
Morrerei, é claro, mas espero que seja dormindo.
Bom dia Isabel Nós conhecemos por tão pouco tempo mas é como se fossemos amigas de longa data pois te quero e te admiro muito
Isabel Fomm de Vasconcellos Muito grata, Ely. Um abraço grande. Não citei a grande perda da Leda. amiga querida, no texto.
Boa Noite!Bom descanso com os seus anjinhos Philip e Elizabeth.
Antonio Da Silva Costa Obrigada Antonio.
Saudades querida Belzinha, Vc é preciosa
Maria Sidney, também não citei outra grande perda no texto, a do nosso querido Zilar. E também a do grande e querido amigo, meu "segundo pai", Pedro Paulo. Saudades de você, amiga!
Eu Tb quero isso! Lindo texto querida, parabéns
Isabel Fomm de Vasconcellos Maria Alice Leonardi Obrigada, amiga!
Admiro seu talento para colocar na forma de texto o seu dia-a-dia e sentimentos. Sempre me emociono ao ler o que escreve, mesmo que seja de um assunto tão evitado pelas pessoas. Gostaria de conseguir fingir que somos eternos e não lembrar que ela vai nos levar, querendo ou não, e do jeito a ser determinado. Também gostaria que a minha fosse tipo "morrer, dormir, talvez sonhar". Beijo e admiração.
Isabel Fomm de Vasconcellos Eduardo Baffa Obrigada, querido Eduardo!
Heiwa Yasumu Seijitsu-sa
Morrer dormindo,de preferência num lindo sonho,daqueles que não vale a pena acordar !
Maria De Fátima Martins
Obrigada por suas preciosas e sábias reflexões sobre a morte…estou me recuperando de uma trombose que aconteceu tao inesperadamente nessa terça feira…obgda por aqui tenho a gata Nina que me faz companhia e o caozinho Gabo…carinhosos…
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