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Pedro Paulo Hatheyer, Ator, Produtor e Diretor de Cinema.

Foto do escritor: SAUDE&LIVROS FommSAUDE&LIVROS Fomm

por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano


Pedro Paulo, Marilda, Caetano e eu, 2015, na Janela da Paulista.
Pedro Paulo, Marilda, Caetano e eu, 2015, na Janela da Paulista.

Morreu o nosso grande amigo Pedro Paulo. Foi no sábado, mas só agora tenho coragem de falar sobre isso. Foi duro de digerir. Ele era a "herança maior que meu pai me deixou". Grande amigo do meu pai, embora muito mais moço, foi ele quem narrou o filme do meu nascimento, em 1951. Sempre foi parte da minha vida. Era o meu segundo pai. Aqui vou escrever sobre ele, vou contar a sua história, ele que foi importante no cinema brasileiro, primeiro como ator, várias vezes premiado, da Vera Cruz (17 filmes!) depois como produtor de documentários, reconhecido e festejado internacionalmente.

 

Aqui dentro, a esquerda burra (porque há uma esquerda inteligente...) fazia questão de ignorá-lo, pois o considerava um "colaborador" da ditadura militar. Ledo engano. Um homem culto, humanista, sensível e maravilhoso que só abrilhantava nossos encontros, nossas festas, aqui em casa, por décadas. E que se tornou muito querido também ao meu amor, Mauro Caetano. Espero que todos vocês, meus amigos, compreendam o grande ator e produtor, o grande homem que ele foi e a quem dedicarei, com muito amor e amizade, esse texto. Adeus, meu amigo querido, uma das minhas maiores inspirações. Adeus. RIP.

 

 

Nos Anos 1950

 

Meu pai tinha um laboratório de cinema, numa época em que quase ninguém sonhava, no Brasil, com tal ousadia tecnológica. Encontrou, não sei como (mas talvez alguém saiba...) um jovem super interessado em cinema. Era o Pedro Paulo Hatheyer, que se tornaria, além de ator do cinema nacional *-- não só na época áurea da Vera Cruz mas até muito depois, nos filmes de Walther Hugo Khouri-- e um importante produtor de cinema  comercial, com sua bem sucedida empresa Hélicon.

 

Bom, o Pedro Paulo vivia trabalhando no laboratório cinematográfico do meu pai e almoçando lá em casa conosco. Isso deve ter durado mais de uma década.

Pedro Paulo, aliás, tinha muito mais visão comercial do que o meu pai (que era um sonhador romântico, encantado com o avanço da tecnologia da imagem) e o ajudava a atualizar sua tabela de preços, naqueles tempos inflacionários.

 

Em 1951, quando eu nasci, Pedro Paulo era um jovenzinho de apenas 20 anos. Mas foi ele, com sua voz maravilhosa, que narrou o filme, que meu pai fez, do meu nascimento. 

 

Uma Dama Chamada Tereza

 

No final dos anos 1960 meu pai vendeu seu laboratório de cinema (embora jamais tenha abandonado a câmera) e o contato quase diário com o Pedro Paulo se desfez.

 

Lembro-me de ter ido à festa de 25 anos da Hélicon, a produtora que Pedro Paulo fundara, lá pelo final dos anos setenta ou começo dos oitenta. Sabia que o Pedro Paulo tivera 3 maravilhosas filhas (uma delas é casada com o Ingo Hoffman) e que se separara da mulher para viver um grande amor com uma verdadeira lady da sociedade paulistana chamada Tereza.

Sua primeira esposa, mãe das suas filhas, chamava-se Zélia e era colega de trabalho da minha tia Jeannette Krausz. Faleceu alguns meses antes dele.

 

 

Muito antes da INTERNET, reciclagem médica por Videoteca.

 

Em 1990 fui encarregada pelo Dr. José Knoplich, - então diretor científico e, mais tarde, presidente da Associação Paulista de Medicina, APM, - de criar uma videoteca científica para a associação. A ideia era levar a reciclagem médica, em aulas gravadas por professores de Medicina, até os profissionais que nem sempre podiam viajar para se atualizarem em simpósios e congressos.

 

Fiz uma cotação de preços de produção dos vídeos, da maneira que eu os imaginara, e, para a minha surpresa... venceu a Hélicon.

 

Fiquei, de cara, muito brava com o Pedro Paulo, quando fui à produtora conversar e ele me perguntou de onde sairiam os recursos para o financiamento do projeto. E eu:

- Vou vender os vídeos para a indústria farmacêutica.

E ele, revelando o seu lado machista e a sua falta de confiança nos empreendimentos das mulheres:

- Ah... Ainda está assim, é? – com a maior cara de decepção, deixando claro que não botava fé mesmo no meu taco.

 

Uma semana depois eu vendera os dois primeiros vídeos e estávamos produzindo.

Comecei a vender uma média de 3 vídeos por semana.

Em seis meses, a videoteca tinha 93 títulos. Um sucesso absoluto, que culminou com mais de 10 mil cópias espalhadas pelas afiliadas da APM em inúmeras cidades brasileiras.

 

Foi um trabalho maravilhoso. Os médicos adoravam. Principalmente os médicos do Interior, que pouco podiam frequentar os professores universitários da USP ou da Unifesp (naquele tempo Escola Paulista de Medicina) e ainda não tinham à sua disposição a atualização pela Internet.

 

Os vídeos tinham apresentadores: os médicos Nabil Ghorayeb, Romeu Meneghelo, Norton Sayeg, Celso Barreiros, Luciano Barsanti...

 

Este trabalho da APM durou 3 anos, até que foi eleita uma nova diretoria e um sujeito com nome de remédio resolveu me dizer que descobrira “como você e a Hélicon estão roubando a APM”.

Montaram uma auditoria, vasculharam a Hélicon e não encontraram nada além de uma história de trabalho honesto e bem sucedido.

Mas eu, é claro, não quis mais saber de trabalhar para aquela gente que assumira a diretoria de então.

 

Epidemia do Cólera

 

Um dia fui contratada pela secretaría municipal da saúde, na gestão da Erundina, para fazer vídeos educativos para o povo bem pobre, o mais ameaçado pela epidemia do cólera que se avizinhava de São Paulo. Eu queria colocar um apresentador que se identificasse com esse público e, quando disse ao Pedro Paulo que escolhera aquele popular radialista, ele ficou vermelho feito um pimentão:

- Um sujeito do nível desse cara não pisa na minha produtora!! – berrou ele.

E eu berrei de volta que ele era um alemão retrógado e ultrapassado.

Nossa. Brigamos feio.

Hoje é, claro, estou gargalhando enquanto escrevo isso. Eu adoro o Pedro Paulo. Ele é um dos nossos melhores e mais queridos amigos.

 

E ri quando eu digo que ele é uma herança que meu pai me deixou.

Eu diria mesmo que a herança mais importante...

Se ele não fosse cineasta e ator, certamente teria sido professor.

Vivi aprendendo coisas com ele. E foi ele quem formou os excelentes profissionais que hoje tocam a Hélicon. O atual chefão e administrador, começou como boy. O atual diretor de fotografia, como pintor de paredes. Cresceram profissionalmente, conquistaram um belo lugar ao sol, graças ao empenho e à generosidade desse homem a quem, um dia, eu tive o desplante de chamar de alemão retrógado...

 

O Palco, as Telas X A Família


Um dia, perguntei a ele porque não seguira com a carreira de ator. E ele me disse que a vida dos atores não era compatível com a dedicação que ele queria ter à sua própria família. Os atores eram notívagos, nem sempre tinham um ganho regular, então, ele optou pela produção comercial de filmes, que garantia o conforto da sua família.

 

E a Avenida Paulista fez 100 anos, na voz de Raul Cortez, no meu olhar e na produção impecável da Hélicon!

 

Em 1991, quando a Associação Paulista Viva começava os preparativos para a comemoração do centenário da Avenida Paulista, eu, como moradora que sou da avenida, resolvi participar. Comecei a frequentar as reuniões que aconteciam no Club Homs. Encontrara, nos velhos filmes 16mm do meu pai, imagens antigas da Paulista e resolvi fazer um vídeo comemorativo. Mas não havia tempo hábil para conseguir patrocínio.

 

Generosamente, Pedro Paulo me deu a equipe, a edição, seus maravilhosos profissionais para que eu realizasse o sonho de dirigir o filme que escrevera: “Um Fantasma na Paulista”. Consegui sensibilizar até o Raul Cortez, que fez a locução.

E assim nasceu o meu mais importante personagem, O Fantasma da Paulista, cujo livro lancei em 2008, no dia do aniversário da avenida, 17 anos depois do “nascimento” do Fantasma... E relancei, atualizado e com fotos, em 2019, em plena calçada da Avenida!

 

Realmente, na vida, um dia todos os caminhos se cruzam.

Cá estou, escrevendo sobre o meu grande amigo Pedro Paulo Hatheyer e lembrando de quão decisivo ele foi e é nessa história do Fantasma.

O Fantasma é hoje parte da minha vida. Jamais me abandonará.

 

Marilda, amada e companheira

 

Mas, voltando ao Pedro Paulo, um dia ele perdeu a sua Tereza. Ficou inconsolável e eu, com ele. A vida continua, porém, e, em 2001, ele conheceu a Marilda, sua companheira e minha amiga querida.

 

Quando ele foi à China, em 2007, a convite da Associação Internacional de Produtores, da qual foi presidente, fizemos um bota fora pra ele aqui em casa.

 

Quase todos os anos ele viajava pro Exterior pra reunião da associação, que, cada ano, é num país diferente. Um dia levou o vídeo do Fantasma e o exibiu pros seus colegas. Foi um sucesso. E eu fiquei super orgulhosa.

 

Orgulhosa fiquei também quando ele lançou um livro de poesia (ele é, além de tudo, roteirista e escritor) e lá havia um poema dedicado a mim, um poema que ele escrevera no meu aniversário de 50 anos, em 2001.

 

*Confira a filmografia do Pedro Paulo:

Per sempre (1991)

O Quarto (1968)

"O Corpo Ardente” (1963)

"Conflito" (1963)

Macumba Love (1960)

Ravina (1958)

 

 

Pedro Paulo nasceu em 1 de fevereiro de 1931

e morreu em 8 de julho de 2017.


Assista Vídeo de 2022, que editei sobre o Pedro Paulo aqui no Edifício Paulicéia, em 1959 - cenas do filme de cinema "Moral em Concordata"


Antonio Carvalho Do Nascimento Um abraço minha irmã. Ele continua vivo em outro plano.Isabel Fomm de Vasconcellos Obrigada, Tom. Só agora consegui chorar. 

Madalena Demasi Isabel ,DEUS com sua infinita misericórdia, já o acolheu em seus braços.Lindo você homenageá-lo ,escrevendo sua história. Você é muito gente.Reze por ele.

Vera Ligia Chiandotti Ambrosio Meus sinceros sentimentos

Vanilda Ferreira Coutinho · 3 amigos em comumMeus sentimentos. Bj.

Elizabeth Krausz Puxa Bel. Sinto muito.

Elza Bastos Marcos Sinceros sentimentos.

Vitor Heeren Sinto muitíssimo !

Linda Naufel de Freitas Meus sentimentos!

Silvana Inacio da Silva Meus sentimentos

Marcia Cestaro Meus sentimentos, Isabel! Deus abençoe grandemente a você e conforte teu coração! 😘

Miriam Sobral Força Belzinha querida! 🙏🏻

Mônica Krausz Meus sentimento Bel.

Claudir Jacques Meus sentimentos.

Ana Leite da Cunha Meus sentimentos!!!

Gorete Costa Meus sentimentos 😍 😍

Marcia Aurichio Meus pêsames. Muita força pra vc. Bj

Suely Heloisa Teixeira Triste... meus sentimentos aos familiares. Que ele esteja na Paz

.Iracelia Maria Silva Meus sentimentos.

Leida Heeren Sentimos muitíssimo, amiga! Deus o tenha em SUA LUZ! Bjs.

Claudia Oliveira Que Deus conforte os corações de todos 😥 💓

Luiz Fernando Walther de Almeida Beijos Bel!!!!!

Raquel Camargo de Melo Meus sentimentos.

Vera Donadio Que triste, Bel. Ele era uma pessoa encantadora. Eu adorava ouvi-lo. Meus sinceros sentimentos.

Leonardo Meireles Meu profundo sentimento de perda!

Roberto Theodoro Leite Deus na sua infinita sabedoria e misericórdia possa consolar o coração de todos os familiares. Meus sinceros votos de condolência.

Nitim Sahye May your memories give you peace and comfort

José Eduardo Pereira Lima Meus sentimentos

Marcos Hirose Meus sentimentos. 

Alcides Saverio Blois Jr. É duro perder amigos. Meus sentimentos.

Suely HeloisaQue triste Bel... como está nossa querida Marilda ? Ele está na paz do Criador... nos iremos a seguir... mas oramos por sua Alma.Triste perder a presença física mas... ficamos com a Presença no coração...A Energia permanece... e eterna !!!A morte e apenas uma trânsito formação ...Obrigada, @Suely Heloisa Teixeira. A Marilda está bem, acredito que ela tenha se preparado para a morte dele. Há um ano que ele vinha tão fraco, dependente das enfermeiras para quase tudo, numa casa de repouso. Mas nos falavamos sempre, por telefone, ele nunca deixou a peteca cair. Lia muito e via seus queridos filmes na TV. Nós sabíamos que era uma questão de tempo. Mesmo assim, não é fácil.

Edna Oliveira Meus sentimentos.

Eurilene Figueiredo Que Deus conforte seu coração..infelizmente temos que aceitar a morte.

Vera Helena Reis Martins Meus sentimentos

Lyzbheth Moura Leite Meus sentimentos!

Ricardo De Freitas Lange Meus sentimentos

Renata Mendonça Meus sentimentos Bel...que Deus console seu coração...bjos

Fabio Bertolozzi lembro bem dele em sua casa...meus sinceros sentimentos

Sheila Sinto muito pela perda Bel

Jussara Pontes Bel, triste mesmo. Eu o encontrei em sua casa varias vezes. Fique bem, minha amiga

Analia Blanco Meus sentimentos.

Ana Luiza Peres Meus sentimentos querida Bel

June Melles Megre Sinto muito ,querida Isabel .Lembro dele em um de nossos encontros .

Fatima Turci Bel sei do seu carinho por ele. compartilho sua dor

Nabil Ghorayeb Competente e boa gente


Filmado, em 1959, aqui no Edifício Paulicéia: Moral em Concordata, com Maria Della Costa.
Filmado, em 1959, aqui no Edifício Paulicéia: Moral em Concordata, com Maria Della Costa.
Com Eva Wilma e Jardel Filho.
Com Eva Wilma e Jardel Filho.

 

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