por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

Por favor, meu pai, vá, esta noite, em sonhos, ver a minha mãe. Vá até ela e diga que você, aí do Reino da Morte, ainda a ama, como eu sei que você a amou nos longos 53 anos em que compartilhavam a vida. Ela está velhinha, tão linda ela velhinha, distante das urgências dos corpos jovens. Mas não está longe da necessidade de afeto.
Vá até ela e leve um sonho lindo, cheio de ternura e amor, como foram os anos em que vocês compartilharam a vida.
Sou a maior testemunha do amor de vocês. Sou o produto desse amor e, convenhamos, não sou um produto de se jogar fora.
Vá até ela e lhe dê, em sonhos, um beijo, daqueles super sensuais e cheios de amor, e lhe dê um pouco da alegria que ela perdeu com a sua morte. Peça licença aí ao Chefe da Morte, implore se for preciso, diga que a sua filhinha, a caçula temporona, a sua menininha (que hoje já é também uma velha, mas tão bem amada) foi quem pediu.
A sua Wanda amada sofreu tanto nestes últimos anos, enfiada naquele apartamento na Praia e eu, meu pai, fiz o que eu acho que é o melhor para ela, o melhor possível neste momento.Por favor, paizão, dê-lhe um sonho com a sua presença.
Tive, nesta vida, este grande privilégio de nascer de dois seres cheios de amor e é por isso, certamente, que a minha vida é hoje plena, absoluta, de amor, amor pelo meu homem, pelos meus leitores e telespectadores e eu vivo assim, livre das porcarias cotidianas, por um milagre dos céus, plena de saúde e alegria.
Assim, meu pai, eu te peço. Vá visitar minha mãe esta noite. Leve a ela a certeza de que ela é muito amada, que é amada além da morte e também na vida. Leve a ela a esperança de que alguma coisa existe para além desta vida.
Leve a ela o seu amor – que eu sei, é verdade, nunca a abandonou.
Por favor, paizão, também tenho tanta saudade de você, também queria ver você nos meus sonhos, mas não se importe com isso, vá lá, aos sonhos dela. E diga que a ama, como disse em suas serenatas do começo do século passado, como disse na única composição musical da sua vida, aquela valsa chamada Wanda. Como disse nas tantas vezes que a sua câmera registrou a imagem dela.
Não sei quando, afinal, vocês irão novamente se reencontrar, na vida ou na morte. Mas dê a ela o benefício e alegria de um sonho. Um sonho lindo, com flores, porque flores é absolutamente tudo o que ela merece. E descanse em paz. Até o renascer, numa nova primavera.
terça-feira, 18 de outubro de 2005 22:43
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