Dias Chuvosos de Antigamente
- SAUDE&LIVROS Fomm
- 18 de abr.
- 2 min de leitura
por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

Andava eu com saudades de um dia chuvoso.
De uns anos para cá, poucos dias chuvosos existem. Ou faz um calor escaldante (mesmo que estejamos nas estações mais frias do ano) e, daí, desaba aquela tempestade impiedosa, ou caem umas chuvinhas mixurucas na maior parte do tempo.
Dia chuvoso que é bom... uma raridade! Como hoje, nessa Sexta-Feira Santa em que os céus derramam suas lágrimas constantes, certamente em honra daquele, como diria Vinicius de Moraes, "morreu na cruz para nos salvar".
Dias chuvosos, nas minhas infância e juventude, eram absoluta maioria na cidade de São Paulo. E eu vivia ansiando por manhãs e tardes ensolaradas em que pudesse usufruir das benesses do meu amado Clube de Campo do Castelo: deslizar sobre um esqui pela represa do Guarapiranga ou nadar na maravilhosa piscina azul...
Aliás, a bem da verdade, é preciso dizer que deslizar sobre um esqui era fazer isso rebocada por uma potente lancha a motor, altamente poluidora das águas já imundas da velha represa. Mas... Fazer o que, né? Ainda não tínhamos, naqueles tempos distantes, a consciência ecológica que temos hoje.
Jamais poderia eu, então, à época citada, imaginar que chegaria um momento em que, como agora, me regojizaria de um simples dia chuvoso e que até ansiaria por ele...
Dias chuvosos são deliciosamente melancólicos. Convidam à introspecção, à leitura, ao bom filme na telinha, no sofá, com cobertor e chocolate quente ao alcance da mão.
No entanto, apenas para os que tem esse privilégio, o de estarem abrigados e seguros (pelo menos, por enquanto, antes que as mudanças climáticas tragam efeitos ainda mais graves!) no aconchego de um lar confortável e abastecido.
Quando vem a chuva, principalmente as atuais frequentes e brutais tempestades, penso e oro! Que as ávores não derrubem os cabos elétricos, que a companhia eletrica se torne, afinal, competente e elimine a tragédia de milhares e milhares de imóveis que ficam sem luz e têm incontáveis prejuízos materiais e financeiros por isso mesmo! Que as ruas não sejam invadidas pelo inacreditável lamaçal que desce das encostas ao redor! Que as casas não sejam inundadas pelas enchentes, acarretando perdas inimagináveis e um trabalho insano aos que nelas habitam!
E então, o meu adorável e ansiado Dia Chuvoso se converte em pesadelo.
É uma triste e amarga constatação: não se fazem mais dias chuvosos como antigamente!
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