Esqueletos Muito Bem Vestidos
- SAUDE&LIVROS Fomm
- 30 de abr.
- 3 min de leitura
por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano
(publicado na Revista UpPharma - att.)

Esqueletos sim, mas muito bem vestidos!
Agora em 2026, completar-se-ão vinte anos do anúncio, pela Semana de Moda de Madrid de 2006, da proibição, em seus desfiles, de modelos muito magras.
Usando o nível de Índice de Massa Corpórea para selecionar as modelos, trinta por cento delas foram rejeitadas por consideradas magras demais, ou seja, tinham IMC abaixo de 18 (é bom lembrar que a OMS – Organização Mundial da Saúde – considera normal o índice que vai de 25 a 28).
Estilistas e Mídia
Leonor Perez Pita, então diretora do evento, disse, à época, que a ideia era não mais estimular a magreza excessiva como um padrão de beleza. Disse ainda que estilistas podiam chiar, mas se acostumariam. Parece que, duas décadas depois, ainda não se acostumaram...
Houve ainda uma estilista de Nova Iorque (cujo nome não vou citar, para não dar mais cartaz a ela) que afirmou estarem agora a responsabilizar os costureiros e similares pelos problemas de anorexia a bulimia nervosa cada vez mais frequentes na vida feminina.
Pois é exatamente isso! São exatamente os estilistas e ditadores de moda os responsáveis pela doença e pela morte de muitas jovens. Esses senhores (a maioria é do sexo masculino) parecem ignorar o poder da mídia e o poder deles próprios. Ditando a moda da magreza, que começou nos anos 1960 com a megera Twigg (que parecia saída de um campo de concentração da Segunda Guerra Mundial), eles se aproveitaram, sim, da fraqueza inerente ao sexo feminino, para impor um modelo de mulher que está distante demais de qualquer realidade étnica e muito mais distante ainda do corpo sadio, que não deve ser nem obeso nem esquelético.
Estilo me-engana-que-eu-gosto
Perdoem-me as minhas amigas por dizer “fraqueza da mulher”, mas nós ainda somos fracas sim. Nós aceitamos quase tudo o que a sociedade nos impõe como se fossemos as nossas avós, que não tinham direito nenhum como cidadãs, não tinham voz e não participavam da vida produtiva. É que, depois de milênios de repressão social e sexual, temos muita dificuldade de pensar com a nossa própria e individual cabeça.
Ainda bem que existem mulheres como Leonor Perez Pita, mulheres que têm a coragem de dizer não a um padrão de beleza que só traz neurose, angústia, frustração e, em casos mais graves, até doenças sérias, como a bulimia e a anorexia, que já mataram jovens na flor da idade.
Matar-se para atender um padrão irreal de beleza é apenas uma atitude muito, muito burra, no entanto, passados quase vinte anos dessa solitária iniciativa no mundo fashion, nada mudou. As modelos continuam sendo esqueletos ambulantes (com raras exceções, como a nossa Gisele) e as mulheres continuam gastando o que tem e o que não tem em busca do tal “corpo ideal”, inatingível para a absoluta maioria de nós.
A Indústria da Magreza
Porém, justiça seja feita: os estilistas e a mídia não são os únicos responsáveis.
Ao longo de décadas, a ditadura da magreza criou uma sólida indústria baseada em alguns produtos e procedimentos sérios e milhares e milhares de porcarias do tipo me-engana-que-eu-gosto comercializadas aos baldes, principalmente pela Internet.
Agora é bem capaz que algum político engraçadinho vá se colocar contra o fim da enganação da magreza com o argumento de que “vão desaparecer empregos”, como muitos se colocaram, antes, contra o fim da indústria do tabaco (que também ainda faz milhões de vítimas pelo mundo).
Lamento, queridas, eu estou e sempre estive fora dessa. Meu IMC é 26. Faço o tipo que os homens preferem...
Bel, 2016, junho, 06
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