Artigo de Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano
Festa Junina, Di Cavalcanti

Foram os cristãos que se apoderaram das festas religiosas dos povos celtas, durante o transcorrer dos últimos séculos da Idade Média. Aliás, não exatamente “os cristãos” mas essa instituição chamada de igreja católica.
As festas juninas, como hoje as conhecemos e as curtimos, nada mais são do que “adaptações” de festas daqueles povos a quem os homens da igreja classificaram como “bárbaros”.
Festa Beltane, dos povos Celtas, ilustração da Internet

Enquanto estavam, na igreja, muito ocupados em torturar e a queimar, vivos, nas fogueiras da inquisição, homens e mulheres que eram considerados “bruxos” – apenas porque professavam e viviam crenças e realidades diferentes das deles – esses supostos cristãos medievais iam se apoderando das datas festivas do celtas e as transformando em comemorações católicas.
Essa é a verdadeira história das nossas Festas Juninas (Santo Antônio, São João e São Pedro). Nas celebrações dos “bárbaros” em honra à fertilidade da terra e à passagem das estações do ano, lá estavam as fogueiras, os alimentos que tipificavam o momento, as danças, tudo em clima “rural”, como são hoje as “festas caipiras” do mês de junho. E estavam, ainda, os cristais onde as sacerdotisas exercitavam o seu poder de Visão e os caldeirões onde preparavam seus medicamentos (poções) fitoterápicos (de ervas).
A grande diferença é que, nas festas dos equinócios e solstícios, da colheita e da fertilidade, os casais não celebravam “casamentos de mentirinha” na dança da quadrilha, mas, sim, faziam amor de verdade. O sexo praticado ali, em meio às árvores, sobre o chão de terra, visava atrair a fertilidade para os campos, lavouras e florestas.
Na visão dos católicos, uma bandalheira, uma sem-vergonhice.
Mas, para que o povo não se revoltasse ainda mais com a cruel presença dos católicos entre as suas belas e milenares crenças, estes foram preservando as festas, mas banindo delas o amor livre. Afinal, liberdade nunca combinou com a doutrina das igrejas e, falando francamente, a doutrina das igrejas nunca combinou com a verdadeira filosofia desse grande pensador que foi Jesus Christo: “Amai-vos uns aos outros” ou “Amai ao próximo como a ti mesmo”.
Assim como incorporaram as hoje chamadas festas juninas ao seu calendário de comemorações pudicas, os católicos também incorporaram o “All Hallow’s Eve” (véspera de todos os Santos) e o Dia dos Mortos, desses mesmos povos celtas.
O Dia dos Mortos acontecia quando se abria uma porta entre os dois mundos, entre o céu e a terra, e, assim, era possível a aqueles já falecidos, virem aos bosques sagrados para encontrar os entes queridos que aqui ainda viviam. Guiados por abóboras iluminadas por velas, os mortos entravam pelos bosques, à procura daqueles que amavam e aos quais aqui, no mundo dos vivos, haviam deixado.
“All Hallow’s Eve” dos povos “bárbaros” virou o americano Halloween e o seu Dia dos Mortos, o de Finados, onde se chora e se lamenta, em vez de comemorar a alegria de rever os nossos saudosos.
O que era celebração da vida, da natureza, e da alegria tornou-se morte e lamentação.
2023, junho
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