Sentido Maior da Faxina
- SAUDE&LIVROS Fomm
- 2 de ago.
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de ago.
por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano.

Minha mãe aprendeu a ser dona de casa aos 65 anos de idade. Antes disso ela só trabalhava em seu atelier de costura, tinha ajudantes na oficina, a Leca (cria da casa da minha avó) cozinhava e administrava as empregadas domésticas, uma, duas, às vezes até três.
Mas, aos 65, a Wanda ainda conservava algumas clientes de costura -- que não queriam saber do prêt-à-porter ou das boutiques, que se tornaram um "must" a partir da década de 1960 -- a Leca já morrera, e minha mãe acabou virando dona de casa. Aprendeu a cozinhar, cuidar das coisas do lar, isso aí.
Também eu, a exemplo do que aconteceu com ela, só aprendi a ser dona de casa muito tarde, nos anos 2000 quando, no intervalo entre uma TV e outra, Mauro e eu estávamos em contenção de despesas e resolvi dispensar as auxiliares profissionais domésticas.
Nossa! Foi um fiasco!!! O aspirador de pó e a lavadora eram, para mim, mistérios absolutos. Nunca, em toda a minha vida, eu cuidara pessoalmente da casa, só das plantas, né? O aprendizado incluiu área de serviço inundada, roupas queimadas pelo ferro, objetos quebrados pelo uso inadequado do espanador de pó e altas crises de choro! hahaha... Mas aprendi, e hoje sou uma expert no assunto.
Lembro-me de uma experiente faxineira que tive, depois disso, que, no dia em que a casa estava horrível e eu fiz faxina junto com ela, a Enedina (querida Enedina, fazia o melhor feijão que já provei!) me disse: " Dona Isabel, a senhora sabe realmente limpar uma casa!"
Fiquei orgulhosa por ser reconhecida por uma profissional do grande gabarito da Enedina e nunca me esqueci disso!
Nesses tempos atuais de, novamente, contenção de despesas e juros a 15% ao mês (absurdo total!), cá estou eu, again, a faxinar a casa! E olhe que meu apartamento é bem grande, tem 111 vasos de plantas, em urban jungles por todos os cômodos, e dois periquitos australianos que vivem completamente soltos, espalhando sementinhas (a ração deles) e cocozinhos por toda a parte!
Hoje, por exemplo, passei o dia faxinando. Nosso quarto, banheiro, o quarto de Floresta dos Pasarinhos, cozinha e área de serviço, sala e escritório. Fora os não sei quantos mil quadros pendurados em todas as paredes, que também tem que ser limpos. E estantes de livros, muitas! WOW! Plantas e passarinhos acrescentam muita sujeira àquela que já é normal, pó, poluição da avenida (que chega sim até aqui, no 20.andar)...
Só que a faxina é altamente gratificante! Estar aqui agora, com tudo brilhando ao redor, proporciona uma incrível sensação de dever cumprido... e bem cumprido! (também bem comprido...levou mais de 5 horas!)
Banho delicioso e quentinho tomado, acendo um incenso, coloco uma música pra tocar, tomo um whisky, como umas bolachinhas com paté e o queijinho da Lilly e, mais uma vez, agradeço a Deus pelo grande privilégio que tenho nessa vida, de morar bem (importantíssimo para uma taurina como eu), de comer bem, de poder tomar meu whisky, de poder ouvir música... e de ter vivido, por 38 anos, um amor maravilhoso como foi o nosso, meu querido Mauro Caetano!
No dia 25 agora, agosto, completar-se-ão 40 anos que nos mudamos aqui pra esse edifício icônico e maravilhoso na Avenida Paulista, o lugar mais espetacular dessa minha cidade natal, São Paulo, que amo de paixão!
Realizei o maior sonho que tive em menina: sou escritora -- Livros de Isabel Fomm de Vasconcellos, escritora-- lançarei em breve o meu livro número 24 (esse, em deliciosa parceira com Tânia G Mauadie Santana e Quetie Mariano) tenho amigos verdadeiros e maravilhosos, o sensacional trabalho cotidiano no nosso Portal Saúde&Livros (www.saudeelivros.com.br) e sou, afinal, quase feliz.
Quase, porque para ser completamente feliz, teria que viver num mundo muito menos infeliz. O mundo de John Lennon. Onde vivêssemos em paz, sem guerras, sem fronteiras, sem países, sem fome, sem fake news, sem intolerância, sem burrice, sem a estupidez que grassa solta aqui nas redes sociais!
Tento fazer a minha parte, mas não sei se a faço com eficiência. Não. Realmente não a faço. Sou apenas uma mulher, discriminada, vítima de etarismo e descrédito, uma mulher de 74 anos de idade que, quando olha para trás, felizmente, de nada se arrepende!
A desigualdade me mata! Tantos, que tanto mais do que eu, possuem, tanto mais do que eu, usufruem e muitas vezes são indiferentes a tudo o que acontece no planeta, com seus irmãos, seres vivos -- pessoas, bichos, árvores, plantas -- muitas vezes completamente inconscientes da nossa enorme interdependência. Somos todos parte de um todo, absolutamente interdependente!
"O que acontece a um, acontece a todos" -- dizia o poeta Walt Whitman.
Mas poucos percebem.
Boa noite, meus amigos.
Bel, 2025, agosto, 02
Jussara Cortez: Que texto brilhante, como sempre, minha amiga, com o qual me identifiquei e muito! Saudades de você.
Sonia Monteiro Querida amiga Isabel cada dia te admiro mais. ; como ser humano do BEM e como profissional da área de Comunicação Oral e escrita. Este seu texto e de uma beleza estonteante e de uma solidariedade infinita. . Ao ler sobre o mundo imaginado por John Lenon fiquei em devaneios . Como você escreve bem; querida Isabel!!!!És uma gigante escritora de 24 livros editados e escreve textos maravilhosos que nos fazem ficar perplexas assustadas; ao admirar tanta beleza Parabéns!!!!!!! Boa noite querida!!



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