por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano
(publicado na Revista Caras)

Quando eu tinha 15 anos de idade meu pai me chamou para uma daquelas conversas sérias. E me disse:
- Minha filha, você não vai trabalhar?
E eu, assustada com a possibilidade de que ele e minha mãe estivessem indo mal em seus respectivos negócios:
- Por que? Você precisa que eu trabalhe?
- Eu não, respondeu ele, graças a Deus. Mas quem precisa é você mesma. Você não é mulher de ficar dependendo de marido. Você vai precisar ter o seu próprio dinheiro.
E eu fui. Fui trabalhar no jornal do meu bairro, como repórter e fotógrafa, profissão, essa última, que eu aprendera com o meu próprio pai.
Trabalho até hoje e sou independente até hoje. Embora casada – e feliz – há mais de 30 anos, com o homem dos meus sonhos... que existe, sim.
Mas agora o que me assusta bastante é esse batalhão de moçoilas que se oferecem descaradamente como verdadeiras deusas do sexo, visando, de fato, usufruir de vantagens econômicas. Num país onde as mulheres são 53% da força formal de trabalho e que, legalmente, conquistaram a igualdade, me parece muito estranho que uma grande parcela das moças ainda sonhe com o sexo como moeda, com o sexo como passaporte para uma união que lhes proporcione estabilidade econômica e/ou ascensão social.
Não dá pra confiar no próprio taco e ganhar sua própria grana, conquistar sua própria posição em vez de se vender pela grana e pela posição de terceiros?
Posar nua para a revista pode render um apartamento. Ou mais. Exibir seu corpo siliconado pode resultar em fama e dinheiro. Aparecer nas redes sociais, exibindo seus dotes sexuais, pode render um casamento ou mesmo uma amigação que lhes proporcione conforto e status.
Depois de tantas conquistas femininas nas últimas décadas, é decepcionante constatar que muitas e muitas mulheres ainda não acreditam que possam subir na vida sem usar um trouxa de um homem (encantado ou apaixonado) como escada.
No entanto, embora a sociedade e a televisão e até as redes sociais alimentem esse tipo de sonho, as uniões entre homens e mulheres, baseadas unicamente na atração física, raramente são felizes e duradouras.
Para viver juntos e felizes, homens e mulheres precisam do sexo, sim, mas precisam também de muito mais que o sexo: amor, paciência, tolerância, compreensão e apoio mútuo.
As mulheres, normalmente, costumam associar o sexo com amor e carinho e, para terem prazer, precisam das preliminares românticas. Muitas se submetem ao desejo masculino, fingindo um prazer que na verdade não sentem, por puro interesse. Interesse esse que é às vezes romântico e às vezes material.
Não sei se existe pesquisa, mas se existir certamente revelará que a maioria das mulheres que são economicamente independentes e bem-sucedidas em suas carreiras profissionais estão sozinhas e têm dificuldade em encontrar um parceiro. Milênios de dominação econômica fazem os homens temerem as mulheres independentes.
Muitos maridos sabotam as atividades profissionais de suas mulheres, temendo que elas acabem sendo mais bem-sucedidas do que eles. Não se pode culpá-los. Afinal, a sociedade educou as mulheres para a dependência e os homens para serem os provedores, os chefes de família.
Outras mulheres preferem renunciar a brilhantes carreiras para assumirem o papel de mães e esposas.
É complicado demais mudar de papel social. É complicado demais ser mulher, mãe, companheira e, ainda, profissional de carreira.
No entanto, sem dúvida, homens e mulheres seriam mais felizes juntos se livres desses estigmas sociais. Se admitissem e respeitassem suas inclinações e talentos naturais. Se não fizessem do sexo, uma moeda. Se um não dependesse do outro.
Mas talvez eu esteja sonhando
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