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Do Vício

  • Foto do escritor: SAUDE&LIVROS Fomm
    SAUDE&LIVROS Fomm
  • 11 de out.
  • 3 min de leitura

por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano



Philip e Elizabeth III na estante de bebidas
Philip e Elizabeth III na estante de bebidas

Não sei onde foi que li, num post, uma frase mais ou menos assim: "por trás do vício está a tristeza; não adianta tratar o vício sem tratar a tristeza." Também não sei se meus amigos psiquiatras e psicólogos concordariam com isso.


Mas fiquei pensando... Tenho dois vícios: cigarro e whisky. Nos últimos tempos consegui várias vitórias: não fumo de manhã, mesmo depois de ter tomado café, e nunca ultrapasso os 7 cigarros por dia, às vezes fumo só três ou quatro, o que já é um grande avanço. Tambem não bebo (e nunca bebi) antes da seis da tarde (aprendi com meu amigo Pedro Paulo, há muitos anos) e se, antes, tomava cinco doses de whisky, agora paro, no máximo, na terceira.


Não sou, portanto, uma viciada muito séria. Mais ou menos viciada, eu diria. Mas, ainda assim... viciada! Fiquei 20 anos sem fumar. Voltei, quando da doença do meu amor. E fumava pouco e escondido dele (porque sou cardíaca e sabia que ele ficaria mal, se soubesse que eu voltara ao cigarro). Mas, depois da morte dele, liberei geral a tal "chupetina do diabo", como dizem os evangélicos. É óbvia, assim, a tristeza que está por trás do meu vício em cigarros.


Dia desses, me atrevi a assistir um dos muitos vídeos que editei apenas com imagens dele (foram 17!), mais ou menos um ano depois que ele morreu. E, apesar de a morte dele ter sido há mais de 4 anos (hoje são 1535 dias!) ainda me surpreendi chorando... Pois é.


Quando ele morreu (e entrei num luto BRAVO) alguns amigos psiquiatras me diziam que eu deveria tomar antidepressivos. Mas a minha amiga maravilhosa, a também psiquiatra, June Melles Megre, disse:" -- De jeito nenhum! Você tem que viver o seu luto até o fim!"


Receio que o luto simplesmente não tenha fim. Ficará comigo por todo o resto dessa minha vida!E, assim, o cigarro e o whisky são os meus "antidepressivos". Meu grande consolo, no cotidiano, são os meus maravilhosos e carinhosos periquitos australianos, Philip e Elizabeth, que me fazem rir... E as minhas plantas, que respondem lindamente aos meus cuidados e , é claro, os meus amigos, que são tantos e tão dedicados, encantadores...


A verdade é que eu sempre bebi muito, desde menina, adolescente. Tive uma fase boêmia na vida, nos anos 1970, em plena ditadura, em que peregriniva pelos bares de São Paulo, muitas vezes acompanhada pela minha grande amiga Diná Coelho.


A bebida, principalmente o whisky e o vinho, sempre me acompanharam pela vida.Por que seria diferente agora, na velhice? Desde que o meu amor morreu, a Morte caminha ao meu lado, todos os dias.


Ah... na minha idade, tenho uma enorme coleção de mortos, a minha CPGP (Coleção Particular de Grandes Perdas), recentemente acrescentada pela partida do meu único sobrinho, Paulo, e de meu amigo de adolescência, Tom.


Mas, apesar de ter visto a morte de meus pais, meus irmãos, de muitos amigos queridíssimos, foi só a partir da morte do meu amor, Mauro Caetano, que ela, a Ceifadora, passou a caminhar ao meu lado.


Todos os dias penso nela e em quando ela virá, afinal, para mim. Talvez demore muito. Afinal, aos 74, estou em melhor situação física do que muitos que têm essa mesma idade. Sinto-me com 17. Disposta, feliz, sem dores, sem problemas, no maior pique! Mas ela, a minha companheira de todos os dias, virá!



Assim, dado tudo isso, acho que mereço, afinal, um whisky e um cigarro!


Bel, 2025, outubro, 11

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