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Dos Abraços

  • Foto do escritor: SAUDE&LIVROS Fomm
    SAUDE&LIVROS Fomm
  • 27 de set.
  • 2 min de leitura

por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

MauroBel 1991
MauroBel 1991

DOS ABRAÇOS

por Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano.

 

Essa noite -- aos 1518 dias da morte do meu amor -- sonhei que ele me abraçava. O melhor dos abraços: aconchegante, encorajador, cúmplice, como sempre foram os nossos abraços. E, no sonho, eu disse a ele:-- Que maravilha, Mauro Caetano! Há anos você não me abraçava assim!

 

Pois é. Foram anos. 4 desde a morte dele e os últimos 3 de vida, que ele passou bem doente. 7 anos sem abraços!

 

Quando ele morreu, perguntei a um dos meus amigos psiquiatras se as pessoas, com doença neurológica, deixam de abraçar e por que. Ele me respondeu apenas: -- Ah, isso é bem complicado!

 

Mesmo assim, fui pesquisar no Google e vi que é bem complicado mesmo! Mas acontece nas doenças neurológicas, principalmente na Esclerose Múltipla (que não era o caso do meu amor).

 

Mas vi também que existem as ausências de abraços por motivos psicológicos. Tenho duas amigas assim: que se retraem quando a gente tenta abraçá-las. Digo "tenta" porque logo se percebe que é pra deixar de tentar! Com elas, neca de abraços!

 

Nunca esqueci uma noite, há muitos anos, quando eu saí para ir ao lançamento de um dos meus livros, aqui, em frente de casa, na livraria da FNAC. Quando estava chegando à faixa de pedestres, diante do prédio da Gazeta, muitas pessoas estavam ali, abraçando os transeuntes. Havia uma faixa estendida nas escadarias do edifício: "Dia do Abraço". Ah! Que delícia! Ganhei (e dei) um abraço maravilhoso numa moça simpática!

 

Também foi nesse mesmo lugar, há alguns meses passados, que um morador de rua puxou conversa comigo e, quase sem perceber, nos atiramos um nos braços do outro, num longo e encantador abraço. Não sei como aconteceu. Ele estava sujo, barbudo, fedido..., mas, quando os nossos olhos se encontraram, o abraço foi inevitável. Conclui que teria sido um encontro de almas: nós nos reconhecemos, de outras vidas!

 

Na minha pesquisa descobri ainda que doentes terminais sentem menos medo da morte quando, nos cuidados paliativos, são incluídos abraços.

 

Nesse momento, meu único sobrinho, filho do meu falecido irmão Alvan, está morrendo num hospital a 800 kms de distância de mim. Não posso ir abraçá-lo. Mas gostaria. Um dos meus melhores amigos, desde a minha adolescência, também está numa UTI, sem muitas esperanças. Não irei vê-lo, não quero parecer invasiva aos olhos da família dele. Mas, mentalmente, eu os abraço, longa e carinhosamente. Espero que, na noite de hoje, eles sonhem que os estou abraçando, como sonhei eu que meu amor me abraçava.

 

É um sonho muito bom. E amanhã é o Dia Mundial do Sonho.


Bel, 2025, setembro, 24

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